sábado, 10 de janeiro de 2015

O Brasil não é só o que parece

Não somos o país mais corrupto do mundo, mas somos o país onde a corrupção está sendo mais denunciada.

Cláudia Bernhardt Souza Pacheco*

O Brasil não é só o que parece


Onde vão parar as profecias que falam do Brasil como a Terra de onde a civilização dourada do 3º milênio iria começar?

Como é possível uma São Paulo com o maior índice registrado de doentes mentais do mundo ser um farol de luz para a humanidade?
Um país onde grassam os escândalos de corrupção a todos os níveis, especialmente nos cargos de poder, a criminalidade, o tráfico de narcóticos, de crianças e de órgãos, a desigualdade de classes, um péssimo índice de aproveitamento escolar, infra estrutura lamentável, paraíso dos bancos e dos burocratas corruptos, impostos e multas mais altos do mundo, e onde o cidadão menos recebe em troca dos impostos arrecadados…
Eu tenho uma tese a respeito.
De acordo com a teoria psicanalítica de Keppe, aquele que mais vê suas mazelas, suas corrupções, está muito mais próximo de corrigí-las do que o que tem uma máscara perfeita, resultado da censura que faz a consciência de suas patologias.
Lembro-me de uma vez que, no início dos anos 90, estacionamos o nosso carro numa praça deserta ao lado de uma Igreja na cidade de Nuremberg na Alemanha. Na verdade, nós não tínhamos ideia de que era proibido estacionar naquela área. Proibição totalmente desconhecida por nós, pois no local não circulava ninguém e nem sequer alemão entendíamos.
O carro, de chapa da Franca, onde residíamos e trabalhávamos, indicava que éramos turistas, trazendo dinheiro para a cidade. Entretanto, nem todos pensam assim na Alemanha (e na maioria dos países do primeiro mundo). Enquanto entrávamos na igreja, uma senhora vizinha, olhando de esgueira atrás da cortina da janela de sua sala, fez uma denúncia da nossa infração para o serviço de guincho.
Levamos não mais que uns quinze minutos para sair da igreja e que susto! Nosso carro já estava sendo guinchado. Fomos “roubados” em 500 marcos (hoje uns 500 euros), fora o estresse de sumirem com nosso carro.
Quando cheguei em casa escrevi ao prefeito da cidade protestando contra a fábrica de multas que tinha sido criada com a anuência do governo. Comparei à mesma situação já instituída na Inglaterra. A resposta que recebi do prefeito foi: na Alemanha não existe NENHUMA CORRUPÇÃO e caso eu continuasse insistindo nesse erro, seria processada por difamação e calúnia! No entanto, CPI realizada alguns anos depois conclui que Helmut Khol , chanceler da Alemanha nessa época,   tinha sido comprovadamente corrupto. E a indústria das multas não é, em si, uma grande corrupção?
É aqui que cada trabalhador aguenta as maiores explorações dos poderes instituídos sejam de ideologia de direita, centro e esquerda, nacionais ou multinacionais.
Então – neste caso – qual a diferença entre a Alemanha, país mais adiantado da Europa, e o Brasil? Não somos o país mais corrupto do mundo mas somos o país onde a corrupção está sendo mais denunciada. Por incrível que pareça, um certo setor de nossa sociedade tem demonstrado mais equilíbrio e mais chances de conseguir a correção dos problemas do Brasil, por estarem denunciando a corrupção como nenhum outro país tem feito.
Recentemente foi publicado um artigo dizendo que a cidade de São Paulo abriga o maior número de doentes mentais do mundo. O paulistano não é mais doente mental do que outros, mas somos os que mais admitimos nossas doenças, nosso estresse, nossa depressão e descontentamento diante dessa estrutura sócio-econômica que se corrompe dia a dia importando do primeiro mundo, leis, valores e comportamentos estranhos a nossa natureza.
São Paulo é a cidade onde a ciência trilógica nasceu e se desenvolveu. Foi em São Paulo que Keppe criou o método mais eficaz de tratamento das neuroses e psicoses e doenças psicossomáticas. Foi aqui que ele e os engenheiros da STOP criaram o motor mais econômico do mundo.
É aqui que cada trabalhador aguenta as maiores explorações dos poderes instituídos sejam de ideologia de direita, centro e esquerda, nacionais ou multinacionais. Somos o povo mais pacífico, obediente e tolerante do planeta! Somos, dentro desse critério, o povo mais equilibrado e não o mais doente – pois toleramos o que ninguém mais tolera.
Posso entretanto dizer que agora São Paulo está acordando para essa consciência. Está perdendo a idealização que fazia dos seus governantes e chefes e denunciando de forma democrática e pacífica as humilhações as quais tem sofrido.
Estamos realizando a mais importante revolução que jamais ocorreu na história da humanidade – o despertar da consciência, principalmente da corrupção!
Agora nos resta assistir essa energética psíquica chegar a um ponto crítico tal que acabará por obrigar os dirigentes a nos deixar trabalhar, viver e crescer em liberdade.
Esse poderá ser o papel mais importante destinado ao Brasil diante do novo mundo que surge – ser o exemplo do despertar da consciência da patologia social.

*Cláudia Bernhardt de Souza Pacheco, Presidente do Instituto Keppe & Pacheco – Teologia, Filosofia e Ciência, psicanalista e escritora.

www.ikp.org.br

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